segunda-feira, 27 de agosto de 2012


"(...) uma imagem que se sobrepõe a outra, o quadriculado do mapa da cidade com sua constelação de cruzinhas e setas (...)" (p. 167)

"Continuo meu passeio pela avenida, que agora já não se distingue mais da imensa planície deserta e gelada. A perder de vista não há mais paredes, nem tampouco montanhas ou colinas; nem sequer um rio, um lago, um mar; nada exceto uma extensão achatada e cinzenta (...). Assim, cá estou percorrendo esta superfície vazia que é o mundo. (...) Foi há poucos segundos, ou já faz muitos séculos, que tudo cessou de existir? Ja perdi a noção do tempo." (ps. 251-2)

Italo Calvino, "Se um viajante numa noite de inverno", tradução de Nilson Moulin, Companhia das Letras, 2006.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Nós percorremos enormes distâncias para contemplar as ruínas de antigas civilizações, mas onde estão as ruínas contemporâneas? Onde estão sendo criadas as ruínas no mundo de hoje? Onde ficam as antigas grandes cidades que agora estão sendo gradualmente abandonadas em uma lenta decadência, deixando sinais do que as futuras gerações irão escavar e encontrar daqui a mil anos?" (ps. 34-35)

"(...) era um lugar diferente, muito diferente de todas as florestas que eu já tinha visto. Nenhuma das árvores era reta; elas eram tortas, retorcidas e pareciam ter levado vidas muito interessantes. O chão da floresta era pontilhado por enormes troncos apodrecidos - corpos deformados, ancestrais dos gigantes que ainda estavam de pé." (p. 58)

"As pinturas e desenhos nas cavernas são um palimpsesto: cada geração parece ter o mais completo desrespeito pelo trabalho de seus predecessores. Eles pintam e desenham diretamente sobre o trabalho anterior, sem se preocupar em liberar uma área ou encontrar uma superfície de pedra que não tenha sido desenhada." (p. 207)

(David Byrne, "Diários de bicicleta", tradução de Otávio Albuquerque, Anna Lim e Fabiana de Carvalho, Amarilys, 2010)