“(...) próximo (...) dos principais pólos econômicos do Brasil colonial, o Espírito Santo, no decorrer de sua história, pouco se beneficiou desta localização. (...) Conhecida no século XVIII como uma das mais pobres Províncias, o Estado contava também, até o final do século XIX, com o menor contingente populacional do litoral brasileiro. (...)
Em linhas gerais, as razões dessa estagnação iniciaram-se no período Colonial e se estenderam ao longo do século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais. Apesar de sua menor distância para o litoral, decidiu-se que o escoamento do ouro deveria ser pelo Porto do Rio de Janeiro, cabendo à Capitania do Espírito Santo apenas o papel de defesa natural para impedir o acesso à região de Minas Gerais. Nesse sentido, o Governo reforçou os contingentes militares e impediu a abertura de qualquer estrada ligando o litoral capixaba à região do ouro. Somente no início do século XIX, devido às mudanças de ordem política, é que caiu, então, a proibição de abrir caminhos para o interior. (...) Porém, isso não surtiu grande efeito, uma vez que os intercâmbios comerciais das Minas Gerais já haviam se consolidado com as Capitanias de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
De 1870 até o final dos anos de 1960, a economia capixaba dependeu da monocultura cafeeira. (...) As peculiaridades da forma do desenvolvimento da lavoura do café moldaram o perfil de sua ocupação territorial e podem ser tomadas como índice para explicar a ausência de grandes aglomerados urbanos.
(...) o café se desenvolveu no Estado a partir de três regiões distintas: região Sul, Norte e Central. Destas, apenas a produção desenvolvida na região Central, até o final do século XIX, era destinada à cidade de Vitória.
(...) Por não dispor de uma infra-estrutura portuária para receber navios maiores, essa produção era levada, inicialmente, por cabotagem, para o Rio de Janeiro, onde era comercializada nas sedes das empresas exportadoras, mantendo, assim, a economia capixaba dependente (...)
(...) Sendo assim: ‘ficou Vitória, apesar de centralizar o aparelho político administrativo do Estado, sem receber influência econômica das outras regiões localizadas no Estado’. (...) A cidade de Vitória, no final do século XIX, encontrava-se ‘isolada dentro do próprio território estadual’ (...).”
(Samira Margotto, em "Cousas nossas: Pintura de paisagem no Espírito Santo - 1930/1960", ps. 26-28)
A persistência, até os anos 1960, da pintura de paisagem academicista no Espírito Santo e sua utilização pelo poder público local como elemento para a construção de uma identidade capixaba fundada nas belezas naturais dos arredores de Vitória são os temas da pesquisa de Samira Margotto em "Cousas nossas: Pintura de paisagem no Espírito Santo - 1930/1960" (Edufes, 2004). Na tentativa de compreender como um gênero artístico tido como liquidado pelo modernismo pôde florescer tardiamente no estado (periférico, apesar de sua centralidade geográfica no litoral brasileiro), a autora acaba por apontar algumas das razões históricas que explicam o isolamento e o acanhamento cultural do Espírito Santo no panorama nacional (“Entre todos os Estados do Brasil, o Espírito Santo é um dos únicos que tem passado em branco perante a nossa história intelectual, sem jamais demonstrar sua cultura em qualquer ramo das ciências e das artes. Raras vezes o seu nome tem surgido e ocupado a atenção da alta imprensa do país”, escreveu Antonio Belisário Vieira da Cunha em 1915, conforme citação à p. 161).
Leia comentários a outros 3 livros sobre a cidade de Vitória (ES):
- “Vitória: Sítio físico e paisagem”, de Letícia Beccalli Klug
- “A geografia da verticalização litorânea em Vitória: o bairro Praia do Canto”, de Eduardo Rodrigues Gomes
- “Expansão urbana da área Norte de Vitória – 1970/87”, de Ricardo Brunow Costa
sábado, 10 de abril de 2010
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