domingo, 17 de julho de 2011

Trecho do poema "Em torno da cidade", do livro "Cais" (2001) , de Alberto Martins





6. do porto

cais
onde as coisas ancoram
onde as coisas demoram
algum tempo
antes de partir

lá está o morto
vivendo de uma outra vida
que só diz respeito ao corpo

lá estão seus ossos
pacotes bem embalados
prontos pra subir a bordo

CAFÉ ALUMÍNIO CEVADA
SOJA CIMENTO
CARNE

- mas pra quê tantos guindastes
se o corpo não se move
jamais?



7. do alto de um guindaste

refém
de cargas
e armazéns
de rotas
e promissórias
commodities
extraviadas
e contrabando
sem nota

- aqui eu moro -

entre bandeiras
de diferentes donos
e as grossas placas
de aço do abandono



Alberto Martins, trechos do
poema "Em torno da cidade", d
o livro "Cais" (Ed. 34, 2001)


Um comentário:

  1. Parabéns pela leitura, Wladimir! Ótima escolha do poema de Alberto Martins e uma paisagem poética por excelência. E a reedição de 'Microafetos'?

    Abraços.

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