segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Em Nova York, onde vivi quase um ano, a maior coisa que vi foi 'una gota de sangre de pato bajo las multiplicaciones'. No ano que estive lá saíra o livro de Lorca Poeta en Nueva York. Comprei o livro e lá encontrei esse verso da gota de sangue de pato. Madrugada de boemia, o poeta, sob arranha-céus, vira, no asfalto, a gota. Era uma coisa ínfima, mas que cresceu em sua emoção aquela madrugada. Seria a coisa mais infinita para o poeta naquela hora. Por toda a minha temporada naquela cidade, a mim me pareceu também a coisa mais soberba." (p. 62)


Manoel de Barros, "Encontros", organização Adalberto Müller, Azougue, 2011)

"Em Nova York fui estudar cinema e artes plásticas. Aproveitei para fazer coisa nenhuma. Andei à toa pelas ruas, roçando nas paredes, me sentindo um verminho no meio de tantos arranha-céus. Essa de sentir-se ínfimo é típica de pessoas sem rumo. E eu era sem rumo. Flanei por ruas. Andei de mar, de rio e de a pé. Estava bem protegido pelo abandono. Pude ver formas, cores e pentelhos. (...) Voltei para casa tranquilo." (p. 101)


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