terça-feira, 24 de julho de 2012

Traduzindo: Roger Wolfe

O Grav - Grupo de Estudos Audiovisuais, projeto de extensão do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciou no mês passado um quadro sobre cinema e televisão no programa "#Tardes Infinitas", da rádio Universitária/Vitória (104.7 FM). O programa do dia último dia 2 de julho foi sobre Rainer Werner Fassbinder. Ao final do programa, o integrante do grupo Flávio Bastos recitou "Os olhos de Fassbinder”, poema do espanhol de origem inglesa Roger Wolfe, numa tradução que fiz a pedido do Grav. Abaixo, o texto original do poema, juntamente com minha tradução (que já passou por algumas alterações em relação ao texto lido na rádio).

A propósito: em breve publicarei neste blog outros poemas de Wolfe que acabei traduzindo depois. Também pretendo publicar por aqui poemas de hispanoamericanos que venho traduzindo na surdina, como um triplo exercício: no idioma espanhol, na escrita poética e no ofício tradutório. 

Para ouvir o programa na íntegra (a tradução do poema encontra-se a partir de 18'):

GRAV no Tardes Infinitas 2 - Rainer Werner Fassbinder

LOS OJOS DE FASSBINDER

poema de Roger Wolfe
del poemario Arde Babilonia, Visor editorial, España, 1994
Tus ojos exhaustos, Rainer, de la vida
- cuyo color ignoro o no recuerdo -
ese mostacho,
la barba rala,
el rostro tierno, tumefacto,
por el tiempo malo y sus desmanes,
me contemplan desde esa foto en blanco y negro,
y debajo la leyenda
en un idioma
que habló mi bisabuelo:
Dichter
Schauspieler
Filmemacher
.
Poeta de la polla y de la mierda,
monstruo, vándalo, arcángel, niño
de mirada incrédula y pasmada,
fantasma encharcado de alcohol
y de heroína,
amado padre, hermano, ramera, maricona,
todos
nos llamamos
como tú.
OS OLHOS DE FASSBINDER
Tradução: Wladimir Cazé
Seus olhos exaustos da vida, Rainer
- olhos cuja cor ignoro ou não recordo -
esse bigode,
a barba rala,
o rosto terno, inchado
pelo tempo ruim e por seus desenganos
me contemplam desde esta foto em preto e branco
e embaixo a legenda
num idioma
que meu bisavô falava:
Dichter 
Schauspieler 
Filmemacher 
Poeta da pica e da merda,
monstro, vândalo, arcanjo, menino
de olhar incrédulo e pasmo,
fantasma encharcado de álcool
e de heroína,
amado pai, irmão, prostituta, bichona,
todos
temos o mesmo nome
que você.

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