sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
"(...) as orelhas da gente andam já tão entupidas que só à força de muita retórica se pode meter por elas um sopro de verdade." (p. 94)
"O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio." (p. 116)
"A morte é uma hipótese (...), talvez uma lenda." (p. 139)
"O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade que estava, ou parecia estar escondida." (p. 152)
sábado, 29 de novembro de 2014
Uma voz de desencanto nos pampas
A maior parte da obra do escritor e intelectual argentino Ezequiel
Martínez Estrada (1895-1964) foi dedicada a investigar a formação sócio-cultural
e os problemas históricos de seu país e da América de língua espanhola. Autor
de dezenas de livros escritos entre as décadas de 1920 e 1960, incluindo poesia,
conto, teatro e crítica literária, ele notabilizou-se sobretudo pelo ensaio, gênero
em que é considerado um dos nomes mais importantes na Argentina, em especial com
“Radiografía de la pampa” (“Radiografia do pampa”, sem tradução no Brasil), de
1933, seu trabalho mais lembrado e estudado.
No ano em que em que se completam 50 anos de sua morte – ocorrida em 4
de novembro de 1964 –, a análise que Martínez Estrada desenvolveu a respeito das
raízes da perpétua crise argentina volta a ser discutida. Em outubro, a editora Sudamericana lançou a biografia
“La amargura metódica – Vida y obra de Ezequiel Martínez Estrada”, de Christian
Ferrer, resultado de vários anos de pesquisa. Na Faculdade de Filosofia e Letras
da Universidade de Buenos Aires organizou-se em 4 de novembro uma homenagem com
debate entre especialistas e apresentação teatral de trechos da obra do
escritor.
Martínez Estrada nasceu em San José de la Esquina, província de Santa Fe, em 1895. Com a separação dos pais e a desagregação familiar, ele se viu, aos 15 anos, impedido de prosseguir os estudos secundários. Nessa idade instala-se em Buenos Aires, ingressa no serviço público (no Correio Central, onde trabalhou até aposentar-se) e inicia sua formação de intelectual autodidata, aprofundada ao tornar-se professor de literatura do Colégio Nacional (1923). Não pertencia a grupos literários, embora eventualmente colaborasse com a revista “Sur”, de Victoria Ocampo.
Contestador, defendia posições anti-imperialistas, mas visitou os Estados Unidos (em 1942, a convite do Departamento de Estado), onde admirou alguns aspectos do país, e a União Soviética (em 1957), tendo disparado alfinetadas contra o sistema comunista. Seus escritos e sua atuação foram marcados por forte viés político, em particular o combate ao peronismo e aos recorrentes golpes militares argentinos e uma breve e intensa adesão ao governo revolucionário cubano, entre 1960 e 1962.
“Radiografía de la pampa”, obra capital de Martínez Estrada, é um longo ensaio de interpretação nacional escrito num momento traumático da história argentina: o golpe militar de 1930, que derrubou o presidente eleito Yrigoyen e empossou o general Uriburu. Naquele momento já um poeta reconhecido e premiado, Martínez Estrada é tomado pela indignação política e dá por encerrada sua “adolescência literária”: abandona a poesia e volta-se para o ensaio, como parte de um esforço de compreensão da formação do país e de seus problemas na modernidade.
Nesse contexto, “Radiografía” pertence à leva de ensaios crítico-culturais que marcaram as primeiras décadas do século XX em diversos países da América Latina: no Brasil, com Gilberto Freyre e Sergio Buarque; no México, com Alfonso Reyes e Samuel Ramos; no Peru, com Haya de La Torre, entre outros. Sobre “Radiografía”, escreve Leo Pollmann que, no livro, o “pampa é (...) uma metonímia da Argentina, porque a análise, a radiografia, não se limita ao interior e aos pampas: seu assunto é a Argentina inteira com suas estruturas pampeanas que, segundo Martínez Estrada, abrangem também Buenos Aires”.
No referido ensaio, Martínez Estrada retoma a dicotomia entre civilização e barbárie estabelecida por Domingos Sarmiento (1811-1888) para caracterizar a formação argentina: a tensão entre um país considerado “civilizado”, “europeu” (Buenos Aires), e uma vasta amplidão selvagem, quase desabitada (o pampa ou “desierto”). Com a independência, Buenos Aires assume o papel hegemônico antes ocupado pela Espanha com relação ao território: “Buenos Aires de um lado e nada do outro”. Mas, ao contrário de Sarmiento, Martínez Estrada não vê a possibilidade de progresso, pois a metrópole não passa de uma “grande aldeia”: a luta do homem contra as adversidades naturais teria resultado numa vitória apenas aparente da capital sobre o pampa, e as estruturas psicológicas e sociais do deserto continuavam a incidir sobre a estrutura urbana.

Anos depois, o autor definiria sua “Radiografia” como uma espécie de “apocalipse” bíblico, uma “revelação ou exposição de uma realidade profunda”. Nessa interpretação pessimista da história e do caráter argentinos transparecem suas leituras de autores como Simmel, Spengler e Nietzsche (sobre este último Martínez Estrada escreveu um livro de ensaios, de 1947) e uma visão fatalista que não se limita ao país, estendendo-se a todo o continente, e, por fim, a toda a civilização ocidental.
Além de “Radiografía de la pampa”, Martínez Estrada produziu inúmeros ensaios tratando de temas ligados a seu país (ele se considerava “enfermo de Argentina”). Em “La cabeza de Goliat – Microscopía de Buenos Aires” (1940), escreveu sobre a metrópole portenha, concebendo a metáfora da capital como um polvo que oprime o interior do país com seus tentáculos. Outros livros do autor são “Sarmiento” (1946), sobre o escritor romântico e líder político do século XIX; “Muerte y transfiguración de Martín Fierro” (1948), sobre a obra do poeta gauchesco José Hernández; “El hermano Quiroga” (1957), sobre o escritor uruguaio. Seu último trabalho de fôlego publicado em vida foi “Diferenças e semelhanças entre os países da América Latina” (1962), que traça uma visão geral do continente e estabelece relações entre fatos ocorridos em tempos e lugares diversos.
A obra de Martínez Estrada permanece inédita no Brasil. O catálogo online da Biblioteca Nacional brasileira não localiza nenhum livro dele traduzido para português. Encontramos apenas uma edição brasileira do pequeno panfleto anti-imperialista “A verdadeira história de Tio Sam” (editora Fulgor, 1963). Ademais de não ter sido traduzido, Martínez Estrada é pouco conhecido no Brasil mesmo entre estudiosos de literatura hispanoamericana ou argentina. Tal situação possivelmente se deve, pelo menos em parte, ao relativo desconhecimento da obra de Martínez Estrada na própria Argentina, motivado pelo ostracismo sofrido pelo autor por razões políticas. A partir de 1956, com a deposição do presidente Perón, a ascensão de uma nova ditadura militar e a divisão da sociedade argentina entre entusiastas e opositores ao novo regime, Martínez Estrada foi escanteado por numerosos escritores, situados tanto à direita quanto à esquerda. Em textos desse período, Martínez Estrada dedicou-se a denunciar os núcleos de poder integrantes do aparato estatal sustentador do regime: “a justiça, o governo, o clero, o magistério, a banca, o quartel e a burocracia”, sem esquecer a imprensa e os intelectuais coniventes com a ditadura. Em discussão travada pelas páginas dos jornais Martínez Estrada criticou a guinada conservadora de Borges, recém-empossado diretor da Biblioteca Nacional, a quem definiu como “bajulador assalariado”; Borges, por sua vez, retrucou, chamando-o de “sagrado energúmeno” (alusão ao profeta Ezequiel).
Curiosamente, os dois escritores já haviam sido relativamente próximos. Borges saudou o lançamento de “Radiografía” e, tempos depois, diria que o lugar isolado de Martínez Estrada no panorama da literatura argentina se devia, em parte, a sua própria excelência: “Não projetou uma única sombra, não foi fundador de uma escola. Foi um ápice, não um ponto de partida. Por conseguinte, é esquecido ou ignorado.” O exigente Borges também elogiou a poesia de Martínez Estrada, a quem considerava uma das maiores vozes poéticas do país: “sua admirável poesia foi apagada por uma vasta obra em prosa”. Borges também o incluiu como um dos personagens ficcionais do conto “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, escrito em 1940 e incluído no livro “Ficções”.
Em anos recentes a obra de Ezequiel Martínez Estrada tem sido reeditada
pela Interzona, de Buenos Aires. É o caso do volume de contos “Juan Florido/Marta
Riquelme”, da peça em versos “Títeres de pies ligeros”, do romance inacabado
“Conspiración en el país de Tata Batata”, da seleção de cartas e discursos
“Mensajes” e da correspondência entre Martínez Estrada e Victoria Ocampo (“Epistolario”).
Outro volume de contos, “La inundación/La cosecha”, saiu em 2010 pela editora
17grises, da cidade de Bahía Blanca. “Coplas de ciego” (1959), seu último livro
de poemas, publicado já na maturidade, foi reeditado em 2011 pela editora da
Universidade Nacional del Sur, da cidade de Santiago del Estero. E em 2008 a Biblioteca
Nacional argentina lançou o ensaio “Filosofia do xadrez”, jogo do qual Martínez
Estrada foi um aficionado e um estudioso durante toda a vida (a obra começou a
ser escrita ainda nos anos 1920 e permaneceu inédita por quase 50 anos após a
morte do autor).
Texto publicado no caderno "Pensar" do jornal "A Gazeta" de Vitória (ES) do dia 29/11/2014
Texto publicado no caderno "Pensar" do jornal "A Gazeta" de Vitória (ES) do dia 29/11/2014
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
alguma ressonância

MCNEE, Malcolm K. Ecopoetry and earth art. in: The Environmental Imaginary in Brazilian Poetry and Art. New York: Palgrave Macmillan, 2014. p. 25-26.
sábado, 8 de novembro de 2014
As coisas “livres no olhar de cada um”
Wladimir
Cazé [1]
Neste
seu primeiro livro, Rodrigo Caldeira lança um olhar amoroso e lúcido à cidade,
à mulher, ao indivíduo cindido dos dias de hoje e à tradição poética brasileira,
acionando algumas das múltiplas lentes e filtros que um escritor tem à mão: a
mirada social; o enlevo amoroso e o encontro erótico; a revisão-releitura de
textos-chave da nossa modernidade; os reflexos (e reflexões) do eu partido; a
contemplação meditativa sobre o tempo e a vida. São esses os principais temas
que o poeta escolhe e se dedica a escrutinar em mais de 50 poemas de estilos e formatos
variados, todos eles, no entanto, perpassados por uma única dicção.
Na peça de abertura, “Identidade”, o poeta se
apresenta e expõe suas referências, sem culpa, num tributo ao cânone modernista
(Drummond, Pessoa, Adélia, Bandeira) que reconhece e incorpora (para superá-la)
certa angústia da influência – tema caro ao autor, que em
seu mestrado em letras pela Universidade Federal do Espírito Santo estudou a presença
da poesia de Drummond nos primeiros escritos de João Cabral de Melo Neto. Essa
reverência à tradição é um traço marcante de Inventário dos olhos e atravessa o volume do começo ao fim. Em
compensação, já meio caminho andado livro adentro, o leitor se depara com um
poema quase raivoso como “Raiz”, que alude a certa planta drummondiana para,
com ousadia, afirmar a própria voz:
Enterrarei
meu corpo sob esse chão cinza
e feito raiz quebrarei os paralepípedos:
uma estranha árvore na confusão do tráfego.
(...)
Ninguém passará sobre meu corpo impunemente.
e feito raiz quebrarei os paralepípedos:
uma estranha árvore na confusão do tráfego.
(...)
Ninguém passará sobre meu corpo impunemente.
“Raiz”
também descortina o tema do excluído social, figura que se fará recorrente no conjunto
de textos, sempre pelo viés da solidariedade indignada e de certa sensação de
impotência, como no poema “Fingidor”:
(...)
(Há no sinal vermelho olhos de crianças
não verdesperanças – olhos pretos de fomes infantis
reletidas nos vidros que se fecham)
(Há no sinal vermelho olhos de crianças
não verdesperanças – olhos pretos de fomes infantis
reletidas nos vidros que se fecham)
(...)
O poeta fita o espaço urbano e percebe que nesse cenário não há lugar para a poesia: habita um “(...) jardim de pedras / onde um poema não resistirá ao peso das flores mortas”. Mas mesmo diante das adversidades, ele, gauche que é, ergue sua bandeira e escreve seu poema-construção – mostrando-se ciente, por outro lado, de que a realidade vista e vivida está sempre aquém e além de qualquer ideia ou emoção que o texto possa enunciar (como explicita o poema “Amar: verbo incurável”, no qual se lê: “tardo com palavras / o que os olhos já dizem ao léu”).
Em
“Pontilhismo por uma paixão”, o poema assume a voz de um quadro (uma pintura) e
desenha uma cena íntima, que tem lugar em algum momento da madrugada. Tristeza
e desejo se confundem com os corpos dos amantes sob a luz difusa. Termo
proveniente da história da arte, pontilhismo é o nome de uma técnica de pintura,
surgida depois do apogeu do impressionismo, na qual pequenas formas e manchas
coloridas são aplicadas na tela pelo artista, de modo que, ao se reunirem
opticamente pelo olhar do observador, adquirem, à distância, os contornos de uma
imagem única. Associando a noção de pontilhismo à poesia de Rodrigo Caldeira, talvez
se possa arriscar uma leitura dos poemas de Inventário
dos olhos como exemplos de uma possível poesia pontilhista. Como se, ao
inventariar os objetos de um mundo descontínuo, informe, o poeta procurasse dar-lhe
forma e sentido, representando o aparente caos com que é interpelado pela vida.
O poema “D’eus” diz:
(...)
Respondi
ao questionário da vida
com uma descontinuidade simples
(...)
com uma descontinuidade simples
(...)
Assim,
Caldeira compõe, verso a verso, um catálogo de coisas com que os olhos se
ocupam: noite vazia, sinal vermelho, beleza, dor, cinema, pichações, lixo,
televisão, porta-retratos, corpo nu, pele, mão, perna, seio, sorriso enluarado,
olhos. E cada leitor, com seu ponto de vista particular, se encarrega de reunir
essas imagens em uma totalidade de sentido. É esse o jogo que o próprio poeta parece
propor no poema “Coisas”, em que, à maneira de um demiurgo de si mesmo, depois
de recensear suas ações, conclui, a respeito das coisas feitas: “fi-las para
viverem livres no olhar de cada um”.
Mas
tal liberdade (ainda que tarde) não impede que o poeta, em certos dias ou
noites de angústia, sinta-se confinado ao cotidiano opaco e estéril, anestesiado
pela rotina e pela falta de intensidade das coisas que vê e sente, como descreve
o poema “Despropósito”:
(...)
a casa se chama apartamento
estou na parte a que chamam quarto
meu corpo jaz sobre o que se chama cama
meus olhos olham o teto
a casa se chama apartamento
estou na parte a que chamam banheiro
meus pés no frio do que se chama chão
meus olhos nos olhos do espelho
(...)
a casa se chama apartamento
estou na parte a que chamam quarto
meu corpo jaz sobre o que se chama cama
meus olhos olham o teto
a casa se chama apartamento
estou na parte a que chamam banheiro
meus pés no frio do que se chama chão
meus olhos nos olhos do espelho
(...)
À
medida que os poemas se sucedem, articulados num todo coeso, Inventário dos olhos ganha força
expressiva e cresce em densidade, até o ponto culminante da escrita de Rodrigo
Caldeira: o último texto do livro. Evocando tanto a “Quadrilha” de Drummond
(1930) quanto o único poema em prosa de Cabral (“Os três mal-amados”, de 1943),
“Raimundo (a fala de um mal’amado)” multiplica imagens surrealizantes para falar
de saudade, solidão e amor, num caleidoscópio que mistura as cicatrizes da alma,
as tatuagens do corpo e as pichações dos muros da cidade. De forma inventiva, o
caráter lírico do poema é levemente torcido em suas duas frases finais, que
tratam do destino dos personagens Maria e Raimundo. Aí, uma micronarrativa se
introduz na trama de metáforas e metonímias, convidando a uma releitura do
texto desde o início (agora sob a perspectiva de quase-conto poético).
Livro
de uma poesia simples, sem malabarismos de linguagem, Inventário dos olhos tem o mérito de comunicar-se com o leitor
não-especialista e de ativar os sentidos desatentos para os encantos da arte
verbal. Sob esse aspecto, destacam-se poemas como “Amor corvo”, “Sombra”,
“Corações disparados” e “Dois quartetos para o pensamento”, alguns dos melhores
momentos do primeiro trabalho de um poeta que tem muito a crescer e a dizer.
[1] Mestrando em letras na Universidade Federal do Espírito Santo e autor dos livros Microafetos (poesia, 2005) e Macromundo (poesia, 2010).
domingo, 2 de novembro de 2014
"Buenos Aires pode parecer uma cidade bonita para quem a contempla como volume levantado repentinamente no ermo. No hemisfério sul não há nada semelhante. Tem certo interesse para quem chega de fora, se ele não a imaginava possível; interesse que desaparece assim que se admite que ela pode existir e ser como a vemos. Para quem nasceu nela, ou a habita desde menino ou a avalia ligada a um texto conhecido, não interessa como cidade propriamente dita, nem mesmo como prodígio. Buenos Aires é uma cidade sem segredos, sem vísceras nem glândulas, sem dobras profundas nem cáries. Tudo o que ela é está à vista e, uma vez conhecida por fora, deixa de interessar. Carece de ontem e não tem uma forma verdadeira; quando terminar de crescer ou de formar-se, poderá ter outra muito diferente. (...)"
Ezequiel Martínez Estrada, in "Radiografía de la pampa" (1933)
Tradução: Wladimir Cazé
Foto: Archivo Fotográfico de Buenos Aires 1933-1980
Foto: Archivo Fotográfico de Buenos Aires 1933-1980
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Quebras é um projeto de Marcelino Freire e Jorge Filholini, contemplado com o edital Rumos Itaú Cultural 2013-2014. A cada mês, a dupla visita uma das 15 capitais brasileiras selecionadas em busca de escritores e artistas cuja produção se encontra fora do eixo Rio-São Paulo. As duas primeiras viagens foram para Teresina e Belém; a terceira, para Vitória, há duas semanas, ocasião em que foram gravadas as entrevistas comigo e com Caê Guimarães (vídeos abaixo). As próximas paradas do Quebras serão Rio Branco, Maceió, Macapá, Manaus, Goiânia, São Luís, Cuiabá, Campo Grande, Porto Velho, Boa Vista, Aracaju e Palmas. Reverbera!
Parte 1
Parte 2
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
DEBATE NA REFAZENDA ENTRE A CANDIDATA-TOMATE E O CANDIDATO-ABACATE
DEBATE
NA REFAZENDA
ENTRE A CANDIDATA-TOMATE
E O CANDIDATO-ABACATE
A refazenda aguardava
o começo do debate.
Olhos e ouvidos atentos
perante do grande embate
o quinto e último ato.
Em final de campeonato
não pode existir empate.
Era claro o desconforto
da candidata-tomate:
parecia rabanete
seguindo para o abate.
Também era perceptível
o aspecto apreensivo
do candidato-abacate.
Ali se decidiria
o destino das lavouras
pela próxima estação,
pelas gerações vindouras
(pelos séculos dos séculos?).
Legumes contra tubérculos,
cebolas contra cenouras.
O candidato-abacate
iniciou o argumento
mostrando nas estatísticas
baixíssimo crescimento.
- “A safra tem sido fraca
graças a essa bruaca.
Basta tanto sofrimento.”
A resposta foi batata:
- “Na gestão do meu partido
nunca faltou cesta básica.
Mas jamais foi esquecido
que, quando aqui governou,
seu grupo quase deixou
o país-pomar falido.”
Ele não deixou por menos,
duro e seguro sorriu.
- “Dados deste dossiê
provam que houve desvio
de verba da irrigação.
Rios e rios de corrupção
foi tudo o que a horta viu.”
Alface dela ficou
completamente escarlate,
mesmo que dissimulasse.
A candidata-tomate
tomou um gole de água,
conteve uma lagrimágoa,
organizou o rebate.
- “Como o senhor nos explica
a existência de um iate
em seu nome, incompatível?
Sonegação-socialaite
indigna de um candidato!
Não merece ter mandato
pilantra desse quilate!”
- “Calúnia! Levyandade!”,
ele quis se defender.
- “Fica mudando de assunto,
pois fracassou no poder.
Pergunte a qualquer verdura
como a vida anda dura.
Tudo é culpa de você!”
E questionou se ela tinha
projeto para o combate
ao tráfico de agrotóxico...
Como faria o resgate
dos valores da família?...
- “Você e sua quadrilha
não vencerão o debate.”
Com esse tempero forte
tornou-se acre o negócio:
o Ruim versus o Pior.
O povo não é beócio:
diante de uma salada
amarga, insossa, estragada,
prefere não ficar sócio.
Mas os patrocinadores
mantém o canal no ar
plantando boato e escândalo
(tudo em se plantando dá),
pra que aqui na refazenda
a distribuição de renda
possa sempre preocupar.
o começo do debate.
Olhos e ouvidos atentos
perante do grande embate
o quinto e último ato.
Em final de campeonato
não pode existir empate.
Era claro o desconforto
da candidata-tomate:
parecia rabanete
seguindo para o abate.
Também era perceptível
o aspecto apreensivo
do candidato-abacate.
Ali se decidiria
o destino das lavouras
pela próxima estação,
pelas gerações vindouras
(pelos séculos dos séculos?).
Legumes contra tubérculos,
cebolas contra cenouras.
O candidato-abacate
iniciou o argumento
mostrando nas estatísticas
baixíssimo crescimento.
- “A safra tem sido fraca
graças a essa bruaca.
Basta tanto sofrimento.”
A resposta foi batata:
- “Na gestão do meu partido
nunca faltou cesta básica.
Mas jamais foi esquecido
que, quando aqui governou,
seu grupo quase deixou
o país-pomar falido.”
Ele não deixou por menos,
duro e seguro sorriu.
- “Dados deste dossiê
provam que houve desvio
de verba da irrigação.
Rios e rios de corrupção
foi tudo o que a horta viu.”
Alface dela ficou
completamente escarlate,
mesmo que dissimulasse.
A candidata-tomate
tomou um gole de água,
conteve uma lagrimágoa,
organizou o rebate.
- “Como o senhor nos explica
a existência de um iate
em seu nome, incompatível?
Sonegação-socialaite
indigna de um candidato!
Não merece ter mandato
pilantra desse quilate!”
- “Calúnia! Levyandade!”,
ele quis se defender.
- “Fica mudando de assunto,
pois fracassou no poder.
Pergunte a qualquer verdura
como a vida anda dura.
Tudo é culpa de você!”
E questionou se ela tinha
projeto para o combate
ao tráfico de agrotóxico...
Como faria o resgate
dos valores da família?...
- “Você e sua quadrilha
não vencerão o debate.”
Com esse tempero forte
tornou-se acre o negócio:
o Ruim versus o Pior.
O povo não é beócio:
diante de uma salada
amarga, insossa, estragada,
prefere não ficar sócio.
Mas os patrocinadores
mantém o canal no ar
plantando boato e escândalo
(tudo em se plantando dá),
pra que aqui na refazenda
a distribuição de renda
possa sempre preocupar.
Wladimir Cazé
9-10/10/2014
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
sábado, 27 de setembro de 2014
O coração vermelho do homem sem guia

Com certa dose de realidade,
alguns logradouros e lugares verdadeiros de Salvador são citados (Instituto
Alemão, Sebo de Brandão), mas tudo acontece num mundo paralelo maravilhoso, onde
as pessoas podem (literalmente) voar. Beirando o terreno onírico e alegórico da
fábula, rezas e danças em grupo confluem para rituais de voo coletivo, liderados
pelo ousado Rasgo, que atrai os amigos Roque, o narrador e um casal (“meu amigo”
e sua mulher, Marikó) a explorar suas asas: “No retorno do voo, no controle da
respiração, voltávamos a habitar o mundo sem nos preocupar se estávamos imersos
na realidade ou não” (p. 17). Enquanto todos planam no ar e brincam nos galhos
das árvores, um outro personagem, Coruja, permanece confinado em casa, num
exílio íntimo interrompido somente pelos pequenos poemas que escreve e envia
pelo celular para “pessoas ilusórias, mas reais, pessoas que sua imaginação
criava” (p. 39).
São 70 poemetos (alguns breves
como aforismos) que o leitor encontra agrupados em 13 blocos colocados entre os
13 curtos capítulos. A justaposição de trechos narrativos em prosa e pequenas
sequências de poemas curtos, sem relação clara entre si, gera um ritmo de
leitura próprio, que desafia o leitor a uma apreensão dos fragmentos em um
compósito coeso. Essa dinâmica de leitura do todo e das partes não cessa ao
longo de todo o livro, garantindo a abertura do sentido do texto. Após a
palavra “Fim”, encontra-se, ainda, um poema um pouco mais longo, que contribui
para ampliar o quadro dos gêneros literários presentes em “O sol partido”.
Essa estrutura fragmentada não é
fortuita e reforça a temática da separação dos amigos, que também se expressa
no título: “sol partido” porque, ícone e síntese da cidade e de uma época da
vida, a estrela sob a qual todos se reuniam, e em torno da qual tinham suas
experiências de descoberta, em algum momento se quebrou (partiu-se) ou se foi
com o anoitecer (partiu). Imagens ligadas ao céu são frequentes no livro,
muitas vezes associadas com a subjetividade ou a emoção: “O sol é vermelho e
estava dentro do meu coração” (p. 23). Na mesma linha, alguns poemas se
destacam, como este: “Tempestade de sol / Banhando a manhã / Espalhando amarelo
/ Colorindo de azul / de verde / de dia / o coração vermelho do homem sem guia”
(p. 50).
O afastamento dos amigos que um
dia foram tão próximos permeia vários dos poemas, como o da página 71:
“Caminhamos por / caminhos diferentes. Sonhamos com / ninhos diferentes / nos portos
seguros / que, juntos, um dia, desenhamos”. O narrador, por sua vez, vê a si e
a seu grupo de companheiros como um bando de pássaros que aprendem a voar
juntos – “Só são livres os pássaros acompanhados” (p. 13) –, mas logo percebe
que cada um precisa partir para sua viagem individual.
“O sol partido” é um livro sobre certos
momentos de felicidade simples e efêmera e sobre uma fase da vida em que a
despreocupação é a tônica dos pensamentos e dos dias de quem tem o futuro pela
frente. Faz pensar, com alguma nostalgia, em tardes de cerveja, música e
poesia: “Meu amigo chegou trazendo dúzias de laranjas (...) Sentamos nós três
(...) e conversamos durante a tarde sem fim. Conversamos sobre a alegria das
crianças, sobre a força do coração, o perigo dos sonhos, a amizade entre povos
diferentes e o fim da vida (...)” (p. 38).
João Mendonça é jornalista e
publicou anteriormente o volume de crônicas e poemas “Tá gripado? Coma gelo!”
(2007). “O sol partido” é publicação resultante de edital de literatura da Secretaria
de Cultura da Bahia. Com a presença do autor, o livro foi lançado em Vitória no
dia 11 de setembro, no bar Cochicho (Rua da Lama). Sendo uma edição do autor,
“O sol partido” pode ser adquirido, ao preço de R$
20,00, através do correio eletrônico jjmaiamendonca@gmail.com.
Texto publicado no caderno "Pensar" do jornal "A Gazeta" de Vitória (ES) do dia 27/09/2014
Texto publicado no caderno "Pensar" do jornal "A Gazeta" de Vitória (ES) do dia 27/09/2014
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Clique na imagem abaixo para melhor visualização
Café Literário SESC
Dia: 12 de agosto
Horário: 19h (acesso gratuito a partir das 18h30)
Local: Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo
Endereço: Av. João Batista Parra, 165 Praia do Suá – Vitória/ES
Debatedores: Júlio Pompeu e Williams Monjardim
Mediador: Wladimir Cazé
domingo, 27 de julho de 2014
Leitura na UFES
Data: 1º/08/2014Horário: 20h
Local: Auditório do CCHN - Campus da Universidade Federal do Espírito Santo/UFES - Vitória (ES)
quarta-feira, 9 de julho de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
no final do mês, no norte do Espírito Santo: literatura & estrada
A cidade de Pedro Canário fica a 265 km ao norte de Vitória, capital do Espírito Santo, na divisa com a Bahia.
domingo, 6 de julho de 2014
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Clique na imagem para melhor visualização.
http://www.interventuras.blogspot.com.br/
Conheça {INTERVENTURAS}, uma série de conversas com escritores e leituras crítico-criativas de seus trabalhos. {INTERVENTURAS} é uma produção independente de CLIPOEMS (Vídeos Experimentais e Música) & LABOR.POET.CO (Laboratório Crítico-Criativo de Poéticas Contemporâneas.
http://www.interventuras.blogspot.com.br/
quarta-feira, 9 de abril de 2014
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Conheça {INTERVENTURAS}, uma série de conversas com escritores e leituras crítico-criativas de seus trabalhos. {INTERVENTURAS} é uma produção independente de CLIPOEMS (Vídeos Experimentais e Música) & LABOR.POET.CO (Laboratório Crítico-Criativo de Poéticas Contemporâneas.
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sábado, 5 de abril de 2014
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Conheça {INTERVENTURAS}, uma série de conversas com escritores e leituras crítico-criativas de seus trabalhos. {INTERVENTURAS} é uma produção independente de CLIPOEMS (Vídeos Experimentais e Música) & LABOR.POET.CO (Laboratório Crítico-Criativo de Poéticas Contemporâneas.
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quinta-feira, 3 de abril de 2014
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quarta-feira, 2 de abril de 2014
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segunda-feira, 31 de março de 2014
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