quinta-feira, 26 de julho de 2012


Impressões do escritor e jornalista espanhol Julio Camba (1882-1962) em sua segunda viagem aos Estados Unidos (1929-30). Extraído da página 57 do recém-lançado
"
Realidade em perspectivas: artigos de Julio Camba sobre a Espanha da primeira metade
do século XX", de Edna Parra Candido (Opção Editora, 2012)

Clique no texto-imagem para melhor visualização

terça-feira, 24 de julho de 2012

Traduzindo: Roger Wolfe

O Grav - Grupo de Estudos Audiovisuais, projeto de extensão do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciou no mês passado um quadro sobre cinema e televisão no programa "#Tardes Infinitas", da rádio Universitária/Vitória (104.7 FM). O programa do dia último dia 2 de julho foi sobre Rainer Werner Fassbinder. Ao final do programa, o integrante do grupo Flávio Bastos recitou "Os olhos de Fassbinder”, poema do espanhol de origem inglesa Roger Wolfe, numa tradução que fiz a pedido do Grav. Abaixo, o texto original do poema, juntamente com minha tradução (que já passou por algumas alterações em relação ao texto lido na rádio).

A propósito: em breve publicarei neste blog outros poemas de Wolfe que acabei traduzindo depois. Também pretendo publicar por aqui poemas de hispanoamericanos que venho traduzindo na surdina, como um triplo exercício: no idioma espanhol, na escrita poética e no ofício tradutório. 

Para ouvir o programa na íntegra (a tradução do poema encontra-se a partir de 18'):

GRAV no Tardes Infinitas 2 - Rainer Werner Fassbinder

LOS OJOS DE FASSBINDER

poema de Roger Wolfe
del poemario Arde Babilonia, Visor editorial, España, 1994
Tus ojos exhaustos, Rainer, de la vida
- cuyo color ignoro o no recuerdo -
ese mostacho,
la barba rala,
el rostro tierno, tumefacto,
por el tiempo malo y sus desmanes,
me contemplan desde esa foto en blanco y negro,
y debajo la leyenda
en un idioma
que habló mi bisabuelo:
Dichter
Schauspieler
Filmemacher
.
Poeta de la polla y de la mierda,
monstruo, vándalo, arcángel, niño
de mirada incrédula y pasmada,
fantasma encharcado de alcohol
y de heroína,
amado padre, hermano, ramera, maricona,
todos
nos llamamos
como tú.
OS OLHOS DE FASSBINDER
Tradução: Wladimir Cazé
Seus olhos exaustos da vida, Rainer
- olhos cuja cor ignoro ou não recordo -
esse bigode,
a barba rala,
o rosto terno, inchado
pelo tempo ruim e por seus desenganos
me contemplam desde esta foto em preto e branco
e embaixo a legenda
num idioma
que meu bisavô falava:
Dichter 
Schauspieler 
Filmemacher 
Poeta da pica e da merda,
monstro, vândalo, arcanjo, menino
de olhar incrédulo e pasmo,
fantasma encharcado de álcool
e de heroína,
amado pai, irmão, prostituta, bichona,
todos
temos o mesmo nome
que você.

domingo, 22 de julho de 2012


"Quando nós saímos de nosso interior (...), de cultura oral, nós saímos de um mundo pré-gutemberguiano. E chegamos aqui, (...) e encontramos um mundo que começava a ser pós-gutemberguiano, onde já se podia prescindir do alfabeto por causa do mundo da telemática, da televisão, do cartaz, de outras linguagens que não era a linguagem escrita. Então nós (...) demos um salto na história de 600 anos e viemos cair nesse mundo." (p. 55)

Tom Zé, entrevista a Isabela Larangeira, 1990, publicada em "Tom Zé - Encontros", organização Heyk Pimenta, Azougue, 2011)

"Quando cheguei aqui tava um calor, era 11 de agosto de 1965, um calor! Me levaram à praça Roosevelt, que não tinha nada, era só calçamento e saía aquele negócio assim que entortava a visão, sabe como é? Parecia o Nordeste, a praça Roosevelt!" (p. 135)

Tom Zé, entrevista à revista "Caros amigos", 1999, publicada em "Tom Zé - Encontros", id., ibid.)

Local da praça Roosevelt, anos 1960
Crédito da foto: aqui

Início das obras de construção da praça Roosevelt, fevereiro de 1968
Crédito da foto: 
aqui


Obras de construção da praça Roosevelt, julho de 1968
Crédito da foto: aqui
Inauguração da praça Roosevelt, 25 de janeiro de 1970
Crédito da foto: aqui


Vista vertical mostrando trecho da Ligação Leste-Oeste sob a Praça Roosevelt
Crédito da foto: 
aqui

População na praça
Crédito da foto: 
aqui

Degradação da praça
Crédito da foto: 
aqui

Novamente em obras, 2012
Crédito da foto: aqui
 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Leitura na UFES

Neste sábado, 9 de junho, às 20h, a programação do XIV Encontro Regional de Estudantes de Letras do Sudeste inclui um recital do qual participarei - com poemas dos livros "Microafetos" (2005) e "Macromundo" (2010) -, juntamente com os poetas Marconi Fonseca e Marcos Ramos.




Data: 09/06/2012
Horário: 20h
Local: IC-2 - Campus da Universidade Federal do Espírito Santo/UFES - Vitória (ES)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Macromundo" em FLORIANÓPOLIS !

Hoje (quinta, 30 de maio) à noite (19h), apresentarei "Macromundo" em Florianópolis (Santa Catarina), no Hall do Centro Integrado de Cultura (CIC). Quem comparecer vai ganhar o cordel "A filha do imperador que foi morta em Petrolina". E quem comprar "Macromundo" (R$ 20,00) vai levar de quebra o cordel "ABC do Carnaval".
Meus agradecimentos aos poetas Vinícius Alves e Marco Vasques, pela acolhida imediata e generosa à ideia do lançamento do livro na capital catarinense.
Local: Hall do CIC - Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica
Horário: 19h
Informações: (48) 3953-2301 / 3953-2300

segunda-feira, 5 de março de 2012

8 de março, às 18h: Sarau na Ufes

Nesta quinta-feira, 8 de março, às 18h, acontece um sarau literário, com entrada gratuita, promovido pelo grupo Cronópio, no prédio Cemuni I, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A programação inclui exibição de vídeo-literaturas, a exposição fotográfica “Sim”, de Thalita Covre, e leitura de textos por Aline Yasmin,
Fernanda Tatagiba, Jamile Ghill, Margareth Galvão, Saulo Ribeiro e Wladimir Cazé.

O Cronópio é um grupo de discussão e produção literária ligado ao Departamento de Comunicação da Ufes, sob a orientação do professor Erly Vieira Jr.

Noite Cultural com Sarau do Cronópio
Local: Cemuni I, Ufes, campus de Goiabeiras (em frente à agência da Caixa Econômica Federal da Ufes)
Quando: dia 8 de março, às 18h
Entrada gratuita.

Fanpage do Cronópio: http://www.facebook.com/cronopioufes

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

‎"Aurora", de Carlos Drummond de Andrade



‎"Aurora", poema de Carlos Drummond de Andrade (do livro "Brejo das Almas", 1934)

Texto do poema: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/carlos-drumond/aurora.php

Câmera e som: João Mauro Uchôa

Leitura: Wladimir Cazé

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Matéria de poesia", de Manoel de Barros


‎"Matéria de poesia"


Texto: Manoel de Barros


(fragmento 1 do poema de abertura do livro homônimo, de 1974)



Leitura: Wladimir Cazé



quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Livros que li em 2011 (2º semestre):

Esta é a lista dos livros que li (ou reli) no 2º semestre de 2011. A contagem, a partir do número 30, dá seguimento ao registro das leituras do 1º semestre (que chegou a 29 livros). Pelos meus cálculos, foram 5.286 páginas
lidas entre julho e dezembro (média diária de 28,7 páginas), de livros de formatos, tamanhos e diagramações os mais variados. Como no período anterior, há predominância de ficção (contos e romances em evidência), mas também presença significativa de trabalhos de historiadores (livros de história são uma das minhas raras predileções que concorrem com a literatura). Releituras (Machado, Noll) tiveram participação relevante – e crescente, já que
chegaram a 33,3% dos livros lidos no 2º semestre, contra 17,2% no 1º. Ilustram este post capas de quatro dos livros que mais apreciei ter descoberto nos últimos meses.

II SEMESTRE 2011:

30. Anu. Wilmar Silva. Yerba Mala Cartonera, 2010. 36 ps. Poesia.
31. El libro de los seres imaginários. Jorge Luis
Borges/Margarita Guerrero. Allianza Editorial, 2008. 236 páginas. 236 ps. Contos.
32. O viajante imóvel – Machado de Assis e o Rio de Janeiro de seu tempo. Luciano Trigo. Record, sem data. 300 ps. História.
33. Exiles. James Joyce. Prometheus Books, 2003. 154 ps. Dramaturgia.
34. A dor e outras fantasias. Daniel Salaroli. Secult/ES, 2010. 68 ps. Contos.
35. O homem que amava as mulheres. François Truffaut. Tradução de Fernanda Scalzo. Imago, 1995. 203 ps. Novela.
36. Romance negro e outras histórias. Rubem Fonseca. Companhia das Letras, 1992. 188 ps. Contos. (*)
37. 50 contos. Machado de Assis. Companhia das Letras, 2007. 487 ps. Contos. (*)
38. As barbas do imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos. Lilia Moritz Schwartz. Companhia das Letras, 1999. 623 ps. História/antropologia.
39. Lorde. João Gilberto Noll. Francis, 2004. 111 ps. Romance.
40. Conversas com linguistas – Virtudes e controvérsias da linguística. Antonio Carlos Xavier/Suzana Cortez (org.). Parábola, 2003. 199 ps. Linguística.
41. Berkeley em Bellagio. João Gilberto Noll. Objetiva, 2002. 103 ps. Romance. (*)
42. A trajetória de um sangue. Maria Odete Moschen. Edição da autora, 2002. 110 ps. Depoimento.
43. Contos hieroglíflicos. Horace Walpole. Tradução de Nuno Batalha. Cavalo de Ferro, 2004. 53 ps. Contos.
44. O cego e a dançarina. in: Romances e contos reunidos. João Gilberto Noll. Companhia das Letras, 1997. 677-772 ps. Contos. (*)
45. O quieto animal da esquina. in: Romances e contos reunidos. João Gilberto Noll. Companhia das Letras, 1997. 443-494 ps. Romance. (*)
46. Bandoleiros. in: Romances e contos reunidos. João Gilberto Noll. Companhia das Letras, 1997. 207-320 ps. Romance. (*)
47. Contos selecionados. Machado de Assis. Gamma, sem data. 204 ps. Contos.
48. O Quinze. Rachel de Queiroz. Siciliano, 1993. 149 ps. Romance. (*)
49. Teatro de la inestable realidad. Aldo Pellegrini. Argonauta, 2008. 108 ps. Teatro/poesia.
50. O novo século – Entrevista a Antonio Polito. Eric Hobsbawn. Tradução de Claudio Marcondes. Companhia de Bolso, 2009. 174 ps. História.
51. Diario de un argentino. Marcelo Silva. Ediciones Patagonia, 2004. 84 ps. Poesia.
52. Formas de cair & outros poemas. Sandro So. Letra Capital, 2011. 85 ps. Poesia.
53. Guerra aérea e literatura. W. G. Sebald. Tradução de Carlos Abbenseth/Frederico Figueredo. Companhia das Letras, 2011. 124 ps. Ensaio.
54. Ahava – A chama azul do afeto. Wilson Alexandre Martins. Edição do autor, 2011. 110 ps. Romance.
55. Dom Casmurro. Machado de Assis. Nova Fronteira, 2011. 250 ps. Romance. (*)
56. Confissões da Bahia: Santo Ofício da Inquisição de Lisboa. Ronaldo Vainfas (org.). Companhia das Letras, 1997. 362 ps. História.
57. Ora bolas: o humor de Mário Quintana. Juarez Fonseca. L&PM, 2010. 159 ps. Humor.
58. Nova antologia poética. Mario Quintana. Globo, 2007. 218 ps. Poesia. (*)
59. A tempestade. William Shakespeare. Tradução de Barbara Heliodora. Lacerda, 1999. 129 ps.
Dramaturgia. (*)

(*): Releituras


























sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011 (algumas fotos, um vídeo e um poema de Rodrigo Caldeira)



Com Saulo Ribeiro e Thiago "Kelber" Fernandes,
Buenos Aires, janeiro

"A filha do Imperador que foi morta em Petrolina"
(folheto de cordel, Edições K, 2004)
Texto e leitura: Wladimir Cazé
Imagens: Thiago "Kelber" Ferreira
Filmado en la Recoleta, Buenos Aires, janeiro 2011


Com Wilson Javier Cardozo,
Montevideo (Uruguay), janeiro

Com Carlos Drummond de Andrade e Rodrigo Caldeira,
Itabira (MG), 21 de abril


O leitor poeta | a Wladimir Cazé

Como um animal faminto, devora no silêncio,
palavra por palavra, a memória dos outros.
Regozija a página vencida, mas busca,
olhos em chamas, mais uma conquista.

Atributo de homem sereno, sem pressa.
O tempo noturno te absorve aos poucos.
Vista cansada não te aflige, quer o final.
Se poesia, quer o poema que te devore.

A leitura come sua criação, em demasia.
Não escreve mais nenhum afetomundo.
Vive precocemente a alegria de Cabral,
para quem a leitura era único alívio.

Em tempo te desafio: inverta o título.
Anteveja o poeta, depois o leitor.
Sentinela que é da noite confidente,
cumpra a sina do porvir: vigia e relata.

Rodrigo Caldeira



Com Jamille Ghil e Ítalo Galiza, na rádio Universitária,
Vitória (ES), 22 de junho

Com o poeta Leandro Jardim, Rio de Janeiro, julho

Com Saulo Ribeiro, Biblioteca Pública do Espírito Santo,
Vitória (ES), 26 de julho



sábado, 5 de novembro de 2011

Com a inventiva coluna/crônica que mantém há alguns meses n'"A Gazeta", Lúcio Manga trouxe um sopro renovador ao Caderno 2 do jornal. Toda semana ele estimula os leitores a enviarem seus poemas, no nobre e algo quixotesco intuito de "transbordar a vida das pessoas de poesia". Na edição de hoje o poema escolhido é um do meu livro "Macromundo" (clique na imagem para ler).

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mundo inventado

Lívia Corbellari deu a ficha completa de "Macromundo" na resenha "Mundo inventado" (clique no link), publicada no portal de notícias "Século Diário".

Aproveito para lembrar que o livro está à venda nos sites das livrarias Cultura e Martins Fontes Paulista e no sebo Estante Virtual. Em Salvador (BA), pode ser encontrado na Midialouca e na LDM. Também está à venda diretamente comigo, por e-mail (wladimircaze@gmail.com).

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"BABEL Poética nº 3" (junho/julho 2011),



As ideias de fronteira e trânsito são o eixo temático da
3ª edição da revista "BABEL Poética" (junho/julho 2011), mapeamento da poesia brasileira na "Era Lula" organizado por Ademir Demarchi. Entre muitas presenças significativas
(Frederico Barbosa, Douglas Diegues, Fabiano Calixto, Ricardo Aleixo, etc.), destaco a dos autores de dois livros breves e
intensos, que li e reli com grande proveito: Cândido Rolim ("Pedra habitada", 2002) e Victor Paes ("O óbvio dos sábios", 2007).

Tenho a satisfação de participar da "BABEL Poética nº 3" com 2 textos (p. 35) do livro "Macromundo", os poemas "Dois urubus" e "Alimária". (É curioso agora abordar esses textos a partir do enquadramento proposto pela revista; eu nunca tinha pensado neles sob tal perspectiva.)

Lista completa de participantes:

sábado, 6 de agosto de 2011

"Uma vida em construção" é o título do perfil que Ana Elisa Bassi, estudante do 6º semestre do curso de Comunicacação Social - Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo, fez comigo para a edição #123 do jornal laboratório "Primeira Mão". O texto, muito simpático, está na página 3, logo abaixo:





quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Macromundo" em Moçambique

"Macromundo" é um dos livros brasileiros que a poeta Ana Rüsche levou para Maputo, Moçambique, durante sua viagem de cinco dias, neste início de agosto, para participar de atividades promovidas pelo Movimento Literário Kuphaluxa: uma oficina, sarau, palestra e o debate "Perspectivas e desafios da literatura contemporânea – Brasil e Moçambique", na Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).

Os livros são destinados a compor os acervos do Kuphaluxa, da AEMO e da Escola Secundária de Lhanguene. A lista (confira no link) inclui obras como "Homem inacabado" e "Mundo mudo", de Donizete Galvão, "A urdidura da trama", de Victor del Franco, "Mesmo poemas", de Renan Nuernberger, "De novo nada" e "Evidências pedestres", de Paulo Ferraz, "Ressurgência Icamiaba", de Deborah Goldemberg, "Pré-datados", de Fabio Aristimunho Vargas", e "Constelação de ossos" de Bárbara Lia, entre outros.

É muito bom participar desse intercâmbio e saber que "Macromundo" está no meio desses trabalhos que começam a ganhar leitores às margens do Oceano Índico.

Quem quiser enviar livros para o Movimento Literário Kuphaluxa, eis o endereço:

Gabinete de Comunicação e Imagem do Kuphaluxa
Email: kuphaluxa@gmail.com
Endereço Postal e sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique
Av. 25 de Setembro, 1728
Maputo – Moçambique

domingo, 24 de julho de 2011

Debate-papo com Saulo Ribeiro: terça, 26/julho, 19h, na Biblioteca Pública do Espírito Santo

Foto: Ariny Bianchi

Nesta terça-feira, 26 de julho, às 19h, a Biblioteca Pública do Espírito Santo (BPES) promove um debate-papo com o talentoso prosador e dramaturgo Saulo Ribeiro, que vai falar sobre seus livros e seu processo criativo. Fui chamado para mediar a conversa entre ele e o público (certamente fui lembrado para a tarefa por conta do meu pequeno comentário crítico, intitulado “A ilha de Vitória na escrita noir de Saulo Ribeiro”, escrito após a leitura dos livros “Diana no Natal” e “Ponto morto”, ambos publicados no segundo semestre de 2010).

Para uma prévia do inédito encontro (pela primeira vez eu e Saulo estaremos na mesma mesa sem uma garrafa de cerveja), recomendo a audição da entrevista que ele deu ao jornalista e crítico Oscar D'Ambrosio, para o programa “Perfil Literário” da Rádio Unesp de Bauru/SP (105,7 FM ).

O que: Debate-papo: um dedo de prosa entre o escritor, o crítico literário e o público leitor. Escritor: Saulo Ribeiro
Quando: 26 julho 2011 às 19h
Onde: Biblioteca Pública do Espírito Santo BPES (Av. João Batista Parra, 165, Praia do Suá, Vitória/ES)

domingo, 17 de julho de 2011

Trecho do poema "Em torno da cidade", do livro "Cais" (2001) , de Alberto Martins





6. do porto

cais
onde as coisas ancoram
onde as coisas demoram
algum tempo
antes de partir

lá está o morto
vivendo de uma outra vida
que só diz respeito ao corpo

lá estão seus ossos
pacotes bem embalados
prontos pra subir a bordo

CAFÉ ALUMÍNIO CEVADA
SOJA CIMENTO
CARNE

- mas pra quê tantos guindastes
se o corpo não se move
jamais?



7. do alto de um guindaste

refém
de cargas
e armazéns
de rotas
e promissórias
commodities
extraviadas
e contrabando
sem nota

- aqui eu moro -

entre bandeiras
de diferentes donos
e as grossas placas
de aço do abandono



Alberto Martins, trechos do
poema "Em torno da cidade", d
o livro "Cais" (Ed. 34, 2001)


terça-feira, 5 de julho de 2011

Livros que li em 2011 (primeiro semestre):

Na lista abaixo estão os 29 livros que li (ou reli, em alguns poucos casos) no primeiro semestre de 2011. Quem me deu a ideia (algo insana) de registrar todos os livros lidos foi Astier Basílio, que mantém essa prática desde 2006. Nosso departamento de estatísticas inúteis contabiliza um total de 5.589 páginas lidas desde janeiro de 2011 (média diária de 30,8 páginas). Não houve o menor plano de leitura; segui sempre a flutuação dos interesses, conforme um autor ou assunto me captasse a atenção em determinado momento. Alguns padrões, no entanto, podem ser apontados: predominância de prosa narrativa (novelas, romances, etc.), com leve ênfase em obras dificilmente classificáveis numa definição rígida de gênero: “Eles eram muitos cavalos” (Ruffato) é um romance ou um cluster de microcontos? Como rotular “O livro dos abraços” (Galeano): contos ou microcrônicas? E os livros de W. G. Sebald - são memórias, relatos de viagem ou ficção? Gostei desse exercício e pretendo continuar. Os links nos títulos levam a trechos que destaquei em algumas dessas leituras.

I SEMESTRE 2011:

1. Golpe de ar. Fabrício Corsaletti. Ed. 34, 2009. Novela.
2. Cárcere. Saulo Ribeiro/Vinícius Piedade. Ed. Cousa, 2009. Dramaturgia.
3. Viagens de Gulliver. Jonatham Swift. Tradução de Paulo Henriques Britto. Penguim/Companhia, 2010. Narrativa.
4. El perseguidor. Julio Cortázar. Alianza Editorial, 1993. Novela. (*)
5. La otra orilla. Julio Cortázar. Punto de Lectura, 2008. Contos.
6. Octaedro. Julio Cortázar. Civilização Brasileira, 2000. Contos.
7. Eduardo Viveiros de Castro - Encontros. Azougue, 2008. Entrevistas.
8. Sargento Getúlio. João Ubaldo Ribeiro. Nova Fronteira, 2005. Romance.
9. O livro dos abraços. Eduardo Galeano. L&PM, 2000. Contos.
10. Eles eram muitos cavalos. Luiz Ruffato. Boitempo, 2006. Ficção.
11. Zero. Ignácio de Loyola Brandão. Codecri, 1979. Romance.
12. Crime e Castigo. Fiódor Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Ed. 34, 2001. Romance. (*)
13. Monodrama. Carlito Azevedo. 7Letras, 2009. Poesia.
14. Collapsus linguae. Carlito Azevedo. Lynx, 1991. Poesia. (*)
15. As banhistas. Carlito Azevedo. Imago, 1993. Poesia. (*)
16. Sob a noite física. Carlito Azevedo. 7Letras, 1997. Poesia. (*)
17. O natimorto. Lourenço Mutarelli. Companhia das Letras, 2009, 2a. edição. Novela.
18. A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento. Georges Perec. Tradução de Bernardo Carvalho. Companhia das Letras, 2010. Novela.
19. Ellis Island. Georges Perec. Traducción de Leopoldo Kulesz. Libros del Zorzal, 2004. Ensaio.
20. W ou a memória da infância. Georges Perec. Tradução de Paulo Neves. Companhia das Letras, 1995. Memórias/ficção.
21. Os anéis de Saturno - Uma peregrinação inglesa. W. G. Sebald. Tradução de José Marcos Macedo. Companhia das Letras, 2010. Memórias/relato de viagem.
22. Yes. Thomas Bernhard. Translated by Ewald Osers. The University of Chicago Press, 1991. Novela.
23. Austerlitz. W. G. Sebald. Tradução de José Marcos Macedo, Companhia das Letras, 2008. Romance.
24. Entre os fiéis - Irã, Paquistão, Malásia, Indonésia - 1981. Companhia das Letras, 2001. Reportagem/relato de viagem.
25. 28 desaforismos. Franz Kafka. Tradução de Silveira de Souza. Editora da UFSC/Bernúncia, 2011. Aforismos.
26. Luna Guerra. Marcelo Silva. El Suri Porfiado, 2010. Poesia.
27. Além da fé - Indonésia, Irã, Paquistão, Malásia - 1998. V. S. Naipaul. Tradução de Rubens Figueredo. Companhia das Letras, 2001. Reportagem/relato de viagem.
28. Cais. Alberto Martins. Ed. 34, 2002. Poesia.
29. Pedra habitada. Cândido Rolim. Age Editora, 2002. Poesia.

(*) Releitura

segunda-feira, 4 de julho de 2011

+ 2 trabalhos para uma “pequena antologia de poesia sonora brasileira": Ricardo Corona, Márcio-André

Em complemento ao post anterior, seguem + 2 trabalhos em poesia sonora produzidos por autores brasileiros da atualidade.



"Pessoa ruim" (2001)
Texto: Ricardo Corona
Texto, vozes e uivos: Ricardo Corona
Guitarras: Gilson Fukushima





"Joia" (2011)
Texto, direção, concepção, animação e edição: Márcio-André
Adaptação do soneto-poliedro de mesmo título

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Aí embaixo vai, em 2 links, o áudio do programa "Vice Verso" da rádio Universitária de Vitória/Espírito Santo com minha participação, na qual falei sobre o trabalho de alguns poetas brasileiros que vêm produzindo poesia sonora na atualidade. Infelizmente, a dinâmica típica de um programa radiofônico não permtiu que fosse apresentada na íntegra a (já em si precária) “pequena antologia de poesia sonora brasileira em 2011” que tentei organizar, tendo ficado de fora o poema sonoro inédito “Joia”, de Marcio-André , e a gravação do poema “Pessoa ruim”, de Ricardo Corona. Entre canções e bate-papos, eu e os apresentadores Jamille Ghil e Italo Galiza ouvimos trabalhos (links abaixo) de Marcelo Sahea, Ricardo Domeneck e Wilmar Silva.



Parte 1 - Programa “Vice Verso” de quarta-feira, 22 de junho de 2011
(clique para abrir o áudio)

Parte 2 - Programa “Vice Verso” de quarta-feira, 22 de junho de 2011
(clique para abrir o áudio)


Apresento a seguir as 3 faixas (2 delas com vídeo) que selecionei e foram ao ar. De quebra, segue também um poema sonoro-visual de Ricardo Aleixo, poeta indispensável em qualquer levantamento da produção brasileira nesse campo.


"Mula"

"Mula" (2007)
Texto: Ricardo Domeneck
Som & voz: Tetine
Video by Eugen Braeunig
Ano de produção: 2007



" Invasor "

"Invasor" (2011)
Poema e imagens: Marcelo Sahea





"Musicacha I" (clique no título do poema para ouvi-lo)
Poema e voz: Wilmar Silva
Música: Gilberto Mauro
Ano de produção: 2005-2009







Real irreal from ricardo aleixo on Vimeo.

"Real irreal" (2008)
Videopoema: Ricardo Aleixo




domingo, 19 de junho de 2011

"Era um andarilho. Por meio dele era possível entender alguma coisa sobre a vida errante (...). A comunidade (...) do deserto era um posto de passagem; ajudara-o a transpor uma parte de sua vida. E sem dúvida (...) havia muitos outros iguais a ele, andarilhos, levando a vida por etapas, conforme ela se apresentasse."

V. S. Naipaul, "Entre os fiéis - Irã, Paquistão, Malásia, Indonésia - 1981", tradução de Cid Knipel Moreira, Companhia das Letras, 2001, p. 195.

"Tornara-se uma espécie de homem errante. Agora, encontrava consolo em terras despovoadas. O país, pelo menos, lhe oferecia isso; havia vastas extensões de deserto e montanha onde um homem podia ter a sensação de que ninguém jamais estivera ali."

V. S. Naipaul, "Além da fé - Indonésia, Irã, Paquistão, Malásia - 1998", tradução de Rubens Figueredo, Companhia das Letras, 2001, ps. 422-423.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

NEOLÍTICO

pendor por fendas,
por onde perdas;

propensão, pertença
a quebras, a quedas,

pulsões em disputa,
tendência a atos atônitos

de ciência e sonho,
constância no caos

(espaço de dissipação
apto a acidentes,

omissão de apoio,
crua corrupção).





(poema até há pouco tempo inédito, agora publicado, ao lado d'"O poema inacabado", na coletânea “O melhor da festa volume 3” (Casa Verde, 264 páginas), que recebi pelo correio esta semana; semaninha tumultuada, de modo que nem tive tempo de iniciar a leitura do volume, apenas de apreciar a bela capa criada por Márcio-André e de gozar da emoção de ver uma amostra de meu trabalho enfeixada junto com textos de autores que admiro de longa data (João Gilberto Noll, Antonio Cicero), figuras que são referência em seus campos de atuação (Douglas Diegues, Ronald Augusto, Henrique Rodrigues), jovens poetas que têm se destacado por sua produção (Everton Behenck, Marcelo Sahea) e, principalmente, dois grandes amigos (Lima Trindade, Sandro Ornellas).

terça-feira, 10 de maio de 2011

A edição 2011 do "Guia do Ócio" (versão Salvador) pediu a várias figuras locais e de fora dicas sobre o que ver e fazer na capital baiana. Entre botecos, festas, restaurantes, museus e atrações turísticas, coube-me recomendar atrações no campo literário.

Em minha pequena participação, citei livrarias particularmente especiais para mim, lugares que eu frequentava toda semana quando morava lá.

O "Guia do Ócio" tem 234 páginas, custa R$14,90 e pode ser encontrado em livrarias, bancas de revistas, hotéis e lojas de conveniências de Salvador - além de estar à venda pela internet.

domingo, 8 de maio de 2011

"(...) a relação entre espaço e tempo, tal como a percebemos ao viajar, tem (...) algo de ilusionista e ilusório, razão pela qual sempre que voltamos de viagem nunca sabemos com certeza se de fato estivemos fora." (W. G. Sebald, "Austerlitz", tradução de José Marcos Macedo, Companhia das Letras, 2008, p. 16)

"Mesmo em uma metrópole regida pelo tempo (...) é possível (...) estar fora do tempo (...)" (id., ibid., p. 103)

"(...) eu costumava sonhar com uma terra sem nome nem fronteiras, totalmente coberta de florestas escuras, que eu tinha de atravessar sem saber para onde." (id., ibid., p. 219-220)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Começa hoje em Porto Alegre a 4ª edição da FestiPOA - Festival Literário de Porto Alegre, que vai até 8 de maio, com vasta programação de painéis, debates, saraus, oficinas, exposições, espetáculos, lançamentos de livros, sessões de autógrafos e shows, em vários endereços da cidade.

No sábado, 7 de maio
, acontece o lançamento da coletânea “O melhor da festa volume três” (Casa Verde, 264 páginas, R$ 25,00), que reúne poemas, contos, crônicas, cartuns e tiras inéditas de 71 autores, entre participantes da 3ª edição do evento (em abril de 2010) e outros que estão na FestiPOA 2011. A sessão de autógrafos ocorre a partir das 21h, na Casa de Teatro - Rua Garibaldi, 853, Independência, tel.: (51) 3029-9292.

Mandei para os editores dois textos, "O poema inacabado" (já publicado neste blog há alguns meses) e outro poema inédito (que postarei aqui em breve). Como meu exemplar ainda não chegou, não sei qual dos dois foi escolhido para o livro, ou se ambos estão nele.

Lista completa de participantes da coletânea "O melhor da festa volume três": Adão Iturrusgarai, Ademir Assunção, Alexandre Rodrigues, Altair Martins, Amilcar Bettega, Antonio Carlos Secchin, Antonio Cicero, Antônio Xerxenesky, Andréia Laimer, Augusto Paim, Bárbara Lia, Carlos André Moreira, Cardoso, Carlos Gerbase, Carlos Pessoa Rosa, Cássio Pantaleoni, Claudia Tajes, Cristian De Nápoli, Daniel Weller, Diego Petrarca, Douglas Diegues, E. M. de Melo e Castro, Everton Behenck, Flávio Wild, Guilherme Orosco, Guto Leite, Henrique Rodrigues, Henrique Schneider, Horacio Fiebelkorn, Jacob Klintowitz, Jeferson Tenório, João Gilberto Noll, Jorge Fróes, Laerte, Laís Chaffe, Leandro Dóro, Liana Timm, Lima Trindade, Lúcia Rosa, Luciana Thomé, Luís Dill, Luís Serguilha, Luiz Paulo Faccioli, Marcelo Spalding, Márcia Denser, Maria Rezende, Marcelo Sahea, Marlon de Almeida, Monique Revillion, Nei Lopes, Nelson de Oliveira, Nicolas Behr, Olavo Amaral, Paulo Ribeiro, Pena Cabreira, Ramon Mello, Reginaldo Pujol Filho, Reynaldo Bessa, Ricardo Silvestrin, Rodrigo Bittencourt, Rodrigo dMart, Rodrigo Rosp, Ronald Augusto, Sandro Ornellas, Sergio Faraco, Simone Campos, Tailor Diniz, Virna Teixeira, Wilmar Silva, Wladimir Cazé, Xico Sá.

Nota complementar: Em 2009, publiquei na revista eletrônica Verbo 21 uma resenha sobre o primeiro volume da série "O melhor da festa" (Nova Roma, 2009). O link para o texto está aqui.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

A ilha de Vitória na escrita noir de Saulo Ribeiro

“(...) no trânsito parado as pessoas lembram de tudo o que gostariam de esquecer. Daí o desespero cotidiano nas grandes metrópoles. Ele não é motivado pela velocidade, mas pela lentidão que nos permite ver e lembrar um mundo que tem perdido a graça e cujas qualidades residem nas possibilidades de fuga consentidas (...)”

(Saulo Ribeiro, “Ponto morto”, ps. 78-79)

A ilha de Vitória que aparece nos dois livros solo de Saulo Ribeiro – “Diana no Natal” (contos, Ed. Cousa) e “Ponto morto” (novela, Secult/ES), ambos lançados no último trimestre de 2010 – é um lugar sombrio, povoado por figuras marginalizadas e onde “condutas tipificadas pela lei como crimes” (“Ponto morto”, p. 15) estão sempre prestes a eclodir. Os narradores-personagens masculinos dos contos e da novela compartilham uma continuidade psicológica e discursiva que lhes permite ser abordados, neste breve comentário sobre o trabalho do escritor capixaba, como um só narrador-personagem: Luca Bandit, advogado de porta de cadeia autodefinido como “um machistazinho adorável” (“Diana...”, p. 39), “de índole vagabunda e personalidade contraventora” (“Diana...”, p. 56), “criado em meio ao coronelismo tardio do norte capixaba” (“Diana...”, p. 39).

Os contos curtos de “Diana...” montam um pequeno painel noir de Vitória, com a escolha do centro antigo como cenário quase exclusivo, a caracterização de uma cidade invariavelmente chuvosa e histórias que transcorrem à noite – quando pouco se enxerga além dos “guindastes do porto vistos por uma fresta entre dois prédios” (p. 66). É significativo que as capas dos dois livros são pretas e trazem cenas de chuva. A atmosfera noir da escrita de Saulo Ribeiro fica evidente logo no primeiro texto de “Diana...”: “Eu me sentia bem no escuro e patético na luz, invariavelmente" (p. 18).

Só no último texto do livro (“Tardes de píer”) a perspectiva tem uma ligeira mudança e o olhar, antes confinado ao ambiente opressivo da ilha, se volta para fora dela, buscando vislumbrar o horizonte e o mar. Se a noite se faz bastante presente nas páginas de “Diana...”, nesta página (p. 75) o narrador-personagem fala numa “manhã de estrada, ensaio de viagem” e diz que “O sol queria fazer sentido”.

Em “Ponto morto” esse olhar para fora de Vitória é ampliado à medida que o narrador-personagem circula por uma maior variedade de espaços: ele percorre a região metropolitana, no entorno da capital (Serra, Vila Velha, Cariacica, Guarapari), e, inversamente, se entranha de modo mais profundo à ilha, em incursões a comunidades dos morros e à “Baía Noroeste”. Um traço marcante em ambos os livros é o fato de que o observador que apreende a paisagem urbana está constantemente em movimento: a bordo de um carro, em caminhadas a pé pelas ruas ou em giros a esmo numa motocicleta em alta velocidade – comportamento à beira do autodestrutivo, que exprime, em grau máximo, a “vontade de partir” (“Ponto morto”, p. 93) de uma cidade onde os engarrafamentos ganham proporções gigantescas e até “os bichos (...) estão enlouquecendo” ("Ponto morto", p. 39).

Tal desejo de evasão do caos urbano é às vezes apenas sugerido e em outros momentos manifestado de maneira explícita, sendo direcionado tanto a um retorno impossível ao interior do Espírito Santo – na direção do centro originário da história pessoal de Luca Bandit ("Eu nunca deveria ter saído da roça e trocado tudo pelo sentimento portuário, essa é a verdade", p. 55 de "Ponto morto") –, quanto, centrifugamente, dirigindo-se a outros paradeiros possíveis (dos quais o mar e o porto de Vitória são símbolos recorrentes, concretizados, afinal, na megametrópole portuária terceiromundista para onde o personagem decide viajar no desfecho da novela).

O texto integral de “Diana no Natal” está disponível para leitura neste link (ou abaixo). Para adquirir as versões impressas de “Diana no Natal” e “Ponto morto”,
entre em contato com Saulo Ribeiro ou com a Ed. Cousa
.


terça-feira, 19 de abril de 2011

"Um número notavelmente elevado de nossas povoações está voltado para o oeste e, onde as circunstâncias permitem, deslocam-se nessa mesma direção. O leste equivale a ausência de perspectiva. Sobretudo na época da colonização do continente americano, era de notar como as cidades se desdobravam para o oeste enquanto seus próprios distritos orientais se reduziam a ruínas. No Brasil, até hoje províncias inteiras se extinguem como fogo quando a terra se esgota por excesso de cultivo e novas áreas a oeste são abertas. (...) nesse eixo se polarizam infalivelmente bem-estar e miséria."

W. G. Sebald, in: "Os anéis de Saturno - Uma peregrinação inglesa", tradução de José Marcos Macedo. Companhia das Letras, p. 161

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Não sei se não tenho nada a dizer, sei que não digo nada; não sei se o que teria a dizer não é dito por ser indizível (o indizível não está escondido na escrita, é aquilo que muito antes a desencadeou); sei que o que digo é branco, é neutro, é signo de uma vez por todas de um aniquilamento de uma vez por todas.”

(Georges Perec, “W ou a memória da infância”, tradução de Paulo Neves, Companhia das Letras, 1995, p. 54)


Perec desenvolve em “W ou a memória da infância” (lançado em 1975) uma experiência textual de entrelaçamento de suas lembranças de infância (na França ocupada da II Guerra) e duas narrativas ficcionais remotamente interrelacionadas (uma das quais, a segunda, é a reconstituição de uma história escrita pelo autor aos 13 anos, depois perdida e quase esquecida, e que trata, com verve alegórico-fantástica, de uma “sociedade preocupada apenas com o esporte, numa ilhota da Terra do Fogo”, p. 14). A composição heteróclita de “W” aponta para uma reflexão sobre os vazios e as lacunas deixados pelo tempo na memória individual e que são preenchidos pelo imaginário na elaboração de nossa história pessoal – aspecto do livro destacado pelas inúmeras notas (com correções, emendas e acréscimos) justapostas pelo próprio autor ao relato de sua infância e da separação e perda dos pais (o pai, aos quatro anos; a mãe, aos seis). A essa reinvenção da memória pela escritura corresponde, no plano estritamente ficcional da obra, o procedimento da súbita interrupção do “romance de aventuras” da primeira parte (narrado por um homem que adota o passaporte e a identidade de outro, após ter desertado do exército durante uma guerra), que “começa contando uma história e, de repente, se lança numa outra”, numa “fratura que suspende a narrativa em torno de não se sabe qual expectativa” (como indica Perec na nota sem título que abre o volume).

Agradeço a descoberta desse livro a Mayrant Gallo, fonte infalível de boas sugestões de leitura



segunda-feira, 14 de março de 2011

"Ele via a cidade toda, lá de cima (Um dia eu vim para cá, conquistar o mundo. Mas eu não sabia o que queria, e ainda não sei, estou em experiência)." (Ignácio de Loyola Brandão, “Zero”, Codecri, 6ª edição, 1979, p. 159)

José fica parado. Andar, ou ficar parado: é a mesma coisa. Ele olha e não vê nada. É como se estivesse em cima de uma folha de papel que cobrisse o mundo. Aqui nada de novo.” (id., ibid., p. 272)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Al lado del Cerro — aunque ese Cerro no tenía lado, se llegaba de golpe y nunca se sabía bien si ya se estaba o no, entonces más bien cerca del Cerro —, en un barrio de casas bajas (...)"
Julio Cortázar, "Rayuela", capítulo 48

"O Cerro me impressionou mais que os Alpes, mais que as Rocky Mountains; porque, claro, eu vinha daqui, de Buenos Aires, uma cidade construída na planície. (...) E então o Cerro me impressionou mais que o Mont Blanc, por exemplo. E se eu chego a ver o Himalaia, (...) me impressionaria menos que o Cerro, já que foi minha primeira montanha."
Jorge Luis Borges, "Sobre a filosofia e outros diálogos" (Hedra, 2009, p. 209)

Foto anônima extraída do verbete Cerro de Montevideo (Wikipedia)